terça-feira, 10 de maio de 2022

A RBS o e CAIS MAUÁ

 A RBS o e CAIS MAUÁ 

Recebi, por email, mensagem da Rosane de Oliveira da ZH perguntado o que nós leitores achávamos da revitalização do Cais Mauá. Enviei a resposta abaixo, que eu compartilho:

Já que você me escreveu (por e-mail), sinto-me, como leitor e assinante da ZH, à vontade para responder a sua pergunta sobre o que eu acho da proposta do Governo do Estado para o Cais Mauá. Acho que a revitalização do Cais Mauá ainda não saiu, porque nos últimos 10 anos, o local foi ocupado por um grupo privado de aventureiros de rapina que além de deixar o patrimônio histórico se degradar, foram protegidos pela grande mídia, como a RBS, que temia expor o fracasso daquela alternativa de privatização que sempre defendeu. Bem que a RBS tentou salvar aquele projeto, mas teve que se dobrar aos fatos constatados pela Polícia Federal.

E assim surgiu o Embarcadero, agenciado por parceiros econômicos da RBS, sem licitação, mesmo que seja para colocar lojas de óculos e de roupas num lugar que deve ser mais bem aproveitado pelas pessoas que gostam da Orla do Guaíba. Sem querer me alongar muito peço que se você quiser saber como é possível transformar o Cais Mauá em um lugar legal e acessível a todas as pessoas, e não somente para a classe média que você pertence, é só acessar o Projeto Cais do Porto Cultural, que elaboramos juntamente com a comunidade cultural da cidade (https://propostacaisdoportoalegre.blogspot.com/). 

Seria bom você, pelo menos, conhecer, já que a RBS foi o único órgão que não esteve presente na coletiva de imprensa do Projeto, realizada no IAB/RS, em dezembro de 2021. Na verdade, o silêncio total da RBS às propostas alternativas e viáveis para o Cais Mauá não surpreendem, dado os interesses que o grupo tem no mercado imobiliário. Mas o boicote da RBS soa estranho ao jornalismo liberal, que o seu grupo defende, não acha? Seria bem mais digno, informar a população e debater as ideias, como requer a mídia democrática, ao invés de cancelar os que pensam diferente como sendo os "caranguejos" da cidade, esta maneira autoritária que a RBS vem usando, para impor o pensamento único no desenvolvimento do estado e de Porto Alegre.

Tenho uma última pergunta: você sabe quem lutou para que a Orla fosse mantida sem construção civil, conforme previa o Projeto Praia do Guaíba em 1988, condição que permitiu que a Orla hoje fosse revitalizada pelo poder público e apreciada gratuitamente por toda a população? E quem foi que lutou pela manutenção da Usina do Gasômetro, hoje um símbolo de Porto Alegre? Sabe quem defendeu o Mercado Público, diante da demolição em nome do progresso? Honestamente, acho que você sabe a resposta. Mas vou ajudar: são as pessoas, instituições e organizações que também denunciaram corretamente o significado lesivo e absurdo do Projeto Cais Mauá SA que a RBS tanto apoiou.

E são as mesmas pessoas - ou as que pensam da mesma forma - que agora estão propondo uma alternativa totalmente viável para transformar o Cais Mauá em um espaço de cultura, educação ambiental, gastronomia, economia criativa, artesanato, entretenimento, tudo com o potencial que Porto Alegre já tem em sua comunidade. Mas com a diferença, em relação ao projeto privado que a RBS defende, de que o Cais possa ser usufruído por todos/as, independentemente da renda, escolaridade, raça e posição social, porque o Cais Mauá é um patrimônio histórico e cultural comum, que deve ser apreciado pelos moradores de todos os bairros e cantos da cidade.

E pode ser bem legal para os turistas que não buscam somente luxo e exclusividade como acontece com o Puerto Madero, de Buenos Aires, citado por você como um exemplo a ser seguido. Sei que é difícil para quem mora no Moinhos de Vento, como você disse, pensar que existem pessoas com direitos iguais aos seus em outros bairros mais populares como a Lomba do Pinheiro, a Restinga, o Partenon, e que são a maioria da população na cidade. 


Mas diferentemente do que sua empresa acha, as cidades podem se desenvolver sem a necessidade de privatizar tudo, os espaços, os parques, os serviços, a infraestrutura. Isso se chama desenvolvimento social, econômico e ambientalmente equilibrado, como prevê o Estatuto da Cidade. Você conhece? Bem, agora que já respondi sua pergunta, espero a sua resposta sobre as perguntas que fiz. Quer ajuda sobre outras informações sobre o que acho que deve prevalecer na revitalização do Cais? É só acessar o blog do Projeto Cais do Porto Cultural (https://propostacaisdoportoalegre.blogspot.com/). 

Foi um prazer responder ao seu questionamento. 

Saudações cordiais, 


Luciano Fedozzi. 

Professor Titular do Departamento de Sociologia da UFRGS. 

Membro do INCT/CNPq Observatório das Metrópoles 

Coordenador do GT Democracia Participativa, Sociedade Civil e Território do CEGOV


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